segunda-feira, 17 de novembro de 2008

De Profundis - Oscar Wilde

“De Profundis é uma longa carta escrita por Oscar Wilde na prisão de Reading ao seu amante Lord Alfred Douglas.”
“Condenado num julgamento que desencadeou e sabia perdido, perseguido pelo escândalo, abandonado por amigos, Oscar Wilde revela a sua complexa personalidade."
“Nascido em Dublin em 1854, Oscar Wilde morreu 46 anos depois no discreto Hôtel d'Alsace."

O livro é na verdade uma grande carta escrita pelo autor durante os dois anos que passou na prisão de Reading, Inglaterra. Como era proibido de enviar cartas, Wilde escreveu o manuscrito que só pôde sair da prisão junto com o autor. O destinatário era o jovem Lord Alfred Douglas, seu amante e protagonista do processo que levou o escritor para prisão (homossexualidade era considerada crime na Inglaterra naquela época). O texto trata exatamente sobre a tempestuosa relação dos dois e sobre as transformações passadas por Wilde na cadeia.


Ao lermos "De Profundis" podemos passar por uma fase de desilusão. Em que nos apercebemos de que o autor só tem um assunto em mente, assunto esse que é, por sua vez, imensamente doloroso, e, por vezes, difícil de ler e entender. Nesse momento, em que compreendemos e sabemos já, que o livro só se vai desenvolver em torno daquele mesmo assunto é atenuada a curiosidade inicial que tantas vezes nos faz acabar um livro, até mesmo quando ele não está a ter interesse (que fique bem claro, não é o caso).
Existe por isso uma altura que se torna menos acessível continuar a ler este livro. Ficamos num estado de abstenção. Em que não custa continuar, nem custa parar. Quem o fizer, no entanto, terá a imensa recompensa de vir a conhecer a beleza que jaz em se ter na vida uma verdadeira dedicação. Beleza essa que é tão complicada de rechecer, quando ainda não foi vivida. Fica-se, a saber, como se sente quem algo adora, de todas as formas.
Ao longo da sua vida, é fabuloso como, depois de maltratado, ignorado, e completamente abusado, Oscar Wilde nunca põe em causa o seu amor. Ama tão completamente que em vez de culpar o causador do sofrimento infinito em que se encontra, acha, ao invés, nele, a razão de viver. Passa algumas fases de desespero, mas compreende cada vez mais aquilo que ele próprio é, através da forma que vai encontrando de justificar o que sente. É tão certo e verdadeiro, que parece errado, e se não se soubesse que esta carta tinha sido escrita da prisão onde se encontrava e do fundo de tudo aquilo que lhe restava como ser humano, nunca se poderia acreditar que este livro tinha nascido do amor. Seria tão mais provável, que tivesse brutado das ausências do mesmo.
É, realmente incrível como consegue um homem atingir um tão elevado grau de sentimento racional...

Nunca saberemos se a versão de Wilde é completamente verdadeira. Mas isso não tira o brilho do texto, que talvez seja a maior vingança que poderia recair sobre seu ex: fez o tal Douglas entrar para história como um homem fútil, leviano e imaturo. Impossível não odiá-lo completamente após o final da leitura.

3 comentários:

De Profundis - Oscar Wilde disse...

Durante os dois anos que passou na prisão, Wilde escreveu todos os altos e baixos de sua conturbada "amizade" (como gostava de se referir) com Sir Alfred. Parecido com um diário, De Profundis é o coração e a alma de Oscar Wilde em suas versões mais explícitas e sinceras. E o que mais chama a atenção nesta singular narrativa é o fato de ele nunca ter feito sequer uma revisão na obra. Isso porque, na prisão, apenas duas folhas de papel lhe eram entregues por dia e, mesmo assim, retiradas ao final da tarde, para serem entregues de volta somente na data de sua libertação. Significa dizer que a versão que podemos contemplar hoje, em pleno ano 2002, e quase 100 anos após a primeira edição, é exatamente a mesma que Robert Ross publicou em 1905!

Oscar Wilde foi um exemplo de homem que seguiu seus impulsos e suportou as conseqüências até o fim. Sim, até o fim, pois mesmo depois de liberto, já totalmente esquecido e ignorado por seu grande amor, Wilde procurou Bosie para se decepcionar pela última vez. E morrer doente e sozinho, a não ser por seu fiel amigo Robert Ross.

De Profundis não é apenas a história de Oscar Wilde contada por quem a sofreu na pele; é a história de um grande homem que sofreu por amar, que quebrou as regras para viver o que acreditava ser o certo, seguir sua razão. De Profundis é a prova de que podemos chegar a este nível de amadurecimento. Porque razão é ver sentido no que se faz. E só o amor pode fazer coisas absurdas fazerem sentido.

De Profundis - Oscar Wilde disse...

ALGUMAS CITAÇÕES DE OSCAR WILDE

- "Posso resistir a tudo, menos às tentações".

- "Há dois tipos de pessoas fascinantes: as que sabem tudo e as que tudo ignoram".

- "Não tenho nada a declarar, exceto minha genialidade." (ao passar pela alfândega dos Estados Unidos).

- "Até as verdades podem ser demonstradas".

- "Qual a diferença entre jornalismo e literatura? O jornalismo é ilegível, a literatura não é lida".

- "Adoro os jantares em Londres. Os convidados inteligentes nunca nos escutam, e os convidados estúpidos nunca conversam".

De Profundis - Oscar Wilde disse...

Em 1891, Wilde conhece aquele que seria sua obsessão e ruína: Lord Albert Douglas, o "Bosie".

Os dois passaram a ser vistos constantemente juntos e Constance teve que lidar com problemas financeiros, já que Bosie era sustentado por Wilde, que lhe fazia todas as vontades.
Processado pelo Marquês de Queensbury - pai de Bosie - e com o testemunho de pessoas que tiveram acesso à sua rotina e costumes sexuais, o escritor foi julgado culpado de "práticas estranhas à natureza" e condenado a dois anos de trabalhos forçados pelo tribunal de Old Baley.

Constance e os filhos precisaram deixar a Inglaterra e trocar o sobrenome, agora maldito, para Holland.

DECADÊNCIA

Os livros de Wilde desaparecem das livrarias, suas peças saem de cartaz, perde a tutela dos filhos e tem seus bens leiloados para pagar as custas do processo
Prisioneiro, primeiro foi colocado no cárcere de Wansworth e depois em Reading onde escreve o belíssimo poema "A balada do Cárcere de Reading".

Ali também é escrito o texto "De Profundis", uma carta dirigida a Bosie, onde tenta explicar sua conduta, culpando o ex-companheiro numa acusação que, na verdade, é uma confissão completa de amargura e culpa.

LIBERDADE SEM DIGNIDADE

Em maio de 1897, Wilde deixa a cadeia. Do lado de fora, são poucos os amigos que o esperam , entre eles o maior e mais fiel: Robert Ross.

Viaja para a França na mesma noite, instalando-se em Dieppe com o nome de Sebastian Melmoth, personagem de um livro escrito por um tio-avô.

Seu segundo pouso na França foi a pequena cidade de Berneval, onde se tornou muito popular, sendo até recebido em casa do vigário da paróquia local.

Passou a usar roupas baratas e deselegantes, morou num pequeno apartamento de duas peças e perdeu totalmente o estímulo para escrever.